fevereiro 26, 2009

MARKETING DA PERVERSÃO: A NOVA ECONOMIA DO DESEJO

ANDREYA NAVARRO

“O homem é uma máquina de desejar”. Esta afirmação, de Michel Foucault, resume o comportamento do homem moderno diante da motivação e dos ensinamentos que temos recebido na cultura ocidental.

Enquanto o poder dominante da igreja passou séculos empenhados em reprimir os desejos naturais dos seres humanos, e despertar desejos imaginários a serem concretizados em uma outra vida, os dirigentes da sociedade moderna dedicam-se a despertar nossos desejos, almejam transformar seus governados em uma sociedade de consumo e incentivam os agentes do desenvolvimento a idealizarem novos produtos e serviços que possam despertar desejos de consumo.

O irrepreensível desejo de sucesso, de ascensão, de acumular riqueza e ostentá-la, não seria tão comum hoje em dia, notadamente entre os mais jovens, sem o conteúdo consumista das mídias, cinema, televisão, literatura infantil, e a necessidade de pertencer a uma moda de comportamento pela sua suposta influência e poder de expressar de forma subjetiva, tudo aquilo que a sociedade valoriza.

A falta de limites simbólicos como a figura paterna, tão desvalorizada e ausente nos tempos atuais, associada à impunidade e à corrupção, desperta uma onda incestuosa de realização de desejos e estabelece um novo patamar de incertezas sobre o que é necessário e o que é desejável.

Embora possa obter-se prazer do fato de desejar sem alcançar o desejado, este prazer jamais será equiparado ao que é proporcionado pela realização do desejo; mas é um meio para aumentar as nossas possibilidades de gozo e para perder o medo de desejar, tão estimulado por aqueles que não querem que desejemos, senão o que lhes pode ajudar a transformar os seus desejos em realidade.

Na sociedade atual, o aluvião de notícias, a cultura imposta, o ensino fragmentado, as múltiplas opiniões difundidas por diversos meios de comunicação, ao mesmo tempo que fomentam os possíveis desejos, dificultam a tarefa de desejarmos por nós próprios. Não somos máquinas autônomas e independentes, estamos todos interligados e “programados” por desejos difusos e contraditórios. A grande filosofia moral da atualidade preconiza que cada ser humano deveria encontrar em seu meio, aquilo com o que se satisfazer plenamente. A impossibilidade desta satisfação acarreta um déficit, um dolo, um dano, qualquer reivindicação neste sentido se encontra legitimada pelo direito de ser satisfeita. Neste sentido Charles Melman (O Homem Sem Gravidade – 2003) identifica uma nova “economia psíquica”:


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