setembro 04, 2008

Acupuntura e hipnose são recursos complementares e auxiliares da Psicologia

CRP SP - Jornal PSI nº149/2006

Conselho Federal de Psicologia já estabeleceu as orientações a serem seguidas.

O Conselho Federal de Psicologia reconhece e considera a acupuntura e hipnose como recursos completares e auxiliares da Psicologia. Mas também essas práticas devem seguir condições de trabalho dignas e apropriadas, utilizando princípios, conhecimentos e técnicas reconhecidamente fundamentados na ciência psicológica, na ética e na legislação profissional.

Em relação à hipnose, por exemplo, a Comissão de Orientação e Fiscalização (COF) do CRP SP recomenda que o profissional observe a Resolução CFP nº 013/00, que aprovou seu uso. A condição para que o profissional aplique esse recurso é a sua capacitação adequada e devida comprovação, de acordo com o disposto no Código de Ética Profissional do Psicólogo e, ainda, que seja utilizado na medida em que se fizer necessário, dentro dos padrões éticos, garantidos a segurança e o bem-estar da pessoa atendida. Isso significa que é vedada ao psicólogo a utilização, por exemplo, da hipnose como instrumento de mera demonstração fútil ou de caráter sensacionalista ou que crie situações constrangedoras às pessoas que estão se submetendo ao processo hipnótico.

A hipnose, como recurso auxiliar dos psicólogos, avançou, a exemplo da Escola Ericksoniana, no terreno psicológico, em sua aplicação prática e no valor científico, e ganhou o reconhecimento não só do CFP, mas da comunidade científica internacional e nacional. Essa prática foi reconhecida na área de saúde, como campo de formação e como recurso técnico capaz de contribuir nas resoluções de problemas físicos e psicológicos, tanto do ponto de vista terapêutico como de recurso coadjuvante.

Isabel Cristina Labate, profa. da PUC-SP e coordenadora do Curso de Extensão de Hipnose Clínica - COGEAE / PUC-SP -, explica que a hipnose tem sido usada para alívio da dor, produzindo anestesia ou analgesia; nos diferentes setores da clínica e cirurgia, notadamente em obstetrícia; como tranqüilização para o alívio dos estados de ansiedade e apreensão, qualquer que seja a sua causa; em qualquer condição na qual a psicoterapia possa ser útil; no controle de alguns hábitos, como o tabagismo; e experimentalmente em qualquer pesquisa, no campo psicológico ou neurofisiológico.

Ela ressalta que a prática não é recomendada, no entanto, para remoção de sintomas, sem primeiro se saber a que finalidade serve; em qualquer condição onde o estado emocional do paciente não foi determinado; sem objetivo definido, apenas para satisfazer insistentes pedidos do paciente; e para abolir determinadas sensações, a fadiga, por exemplo, o que pode levar o paciente a ir além dos limites de sua capacidade física.

Ela recomenda que para se iniciar uma psicoterapia sob hipnose, é importante saber se essa técnica é a mais indicada para o paciente e se não há contra indicação na indução e manutenção do estado hipnótico. “A hipnose não é uma forma de psicoterapia, mas um meio de facilitação da psicoterapia, um auxiliar valioso pelo emprego eventual de procedimentos especializados que só podem ser obtidos pela hipnose”, diz Isabel.

Segundo ela, qualquer técnica psicoterápica pode ser aplicada sob hipnose. Isso exige por parte do terapeuta não só conhecimento da técnica hipnoterápica, mas também conhecimento e experiência no campo da psicoterapia. “Hoje, a hipnose desenvolve-se em uma experiência interpessoal, dinâmica. O aspecto tradicional da hipnose como técnica passiva centralizada no médico não é mais aceita e novas concepções têm contribuído para sua utilização como uma terapia ativa, centralizada no paciente”, diz a profissional.

Em 2002, a acupuntura - incluída no Catálogo Brasileiro de Ocupações do Ministério de Trabalho, que prevê o tratamento de moléstias psíquicas, nervosas e de outros distúrbios orgânicos e funcionais -, foi também reconhecida pelo CFP, como recurso complementar no trabalho do psicólogo, através da Resolução CFP n° 005/2002. Essa resolução estabelece que o psicólogo poderá recorrer à acupuntura, dentro do seu campo de atuação, desde que possa comprovar formação em curso específico de acupuntura e capacitação adequada, de acordo com o disposto na alínea “a” do artigo 1º do Código de Ética Profissional do Psicólogo. A Sobrapa (Sociedade Brasileira de Psicologia e Acupuntura) recomenda que o psicólogo procure um curso de acupuntura tradicional com 1.200 horas de duração que disponha de pelo menos um psicólogo no corpo docente e em supervisão de atendimento.

A presidente interina da Sobrapa, Sonia Chiba, diz que estudos científicos corroboram a tese de que a acupuntura, praticada há mais de 5 mil anos, tem ação significativa na esfera psíquica. “A OMS aponta também nessa direção. O ser humano é um ‘todo’ não suscetível de ser dividido e o psiquismo é parte integrante podendo apresentar desequilíbrios significativos onde entra então a intervenção do psicólogo acupunturista”, explica ela. Em 1990, a primeira implantação de acupuntura na saúde mental na prefeitura de São Paulo foi realizada pelo psicólogo Delvo Ferraz da Silva, sócio-fundador da Sobrapa. E em maio de 2006, o Ministério da Saúde publicou a Portaria n° 971, inserindo a acupuntura no SUS.

Luiz Leonelli, coordenador do ambulatório terapias complementares do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador do Estado de São Paulo - CEREST/SP -, ressalta, com base em sua experiência clínica, que não se pode exercer a psicoterapia e acupuntura de forma conjunta, devido às diferenças de “enquadre” e particularidades no papel do psicólogo acupunturista em relação ao psicoterapeuta. Mas ele observa que mesmo sendo a acupuntura usada de forma independente, como recurso complementar à psicoterapia, os resultados são visíveis, duradouros e consistentes em vários aspectos. Ele menciona o trabalho desenvolvido no ambulatório do CEREST/SP.

Ali, há um contingente grande de pacientes portadores de Ler/Dort (Lesões por esforços repetitivos/Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho). Ele explica que a acupuntura é usada com resultados significativos em caráter interdisciplinar com outras áreas como fisioterapia, psicologia, medicina, terapia ocupacional, entre outras, na assistência integral a pacientes que apresentam dores no sistema músculo-esquelético, quadros associados à depressão, síndrome do pânico, assédio moral, além de outras contingências.

Segundo Leonelli, tais pacientes são submetidos a situações agudas e crônicas de estresse, com agravamentos relacionados à ocupação, como afastamento de serviço por demissão, auxílio-doença, acidente de trabalho, freqüentemente envolvidos em conflitos laborais (longos processos judiciais), familiares e pessoais. “Nunca vem somente a dor física. Há todo um sofrimento psíquico relacionado a essa condição”, diz. Leonelli acrescenta que a acupuntura, por intervir no sistema nervoso e de forma psico-neuroimuno- endócrina, tem sido indicada também para transtornos de ansiedade, psicossomáticos, imunológicos que se agravam com o estresse, o uso de drogas, os distúrbios alimentares como obesidade associada a compulsividade alimentar, entre outras manifestações.

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