janeiro 21, 2009

Pais reclamam de abordagem sobre educação sexual em escola de Valparaíso

João Campos - Correio Braziliense

Publicação: 20/11/2008 08:26 Atualização: 20/11/2008 08:35

Um texto sobre educação sexual, entregue para alunos de 9 a 11 anos de uma escola particular de Valparaíso (GO), causou rebuliço na tarde de ontem. A reportagem, retirada de uma revista voltada para a orientação de pais e educadores, apresentava casos em que a curiosidade de crianças sobre a sexualidade deixava os professores em situações difíceis. No entanto, ao ter acesso aos termos e temas abordados no material, pais de estudantes do 5º ano — antiga 4ª série — do colégio JK se mobilizaram para cobrar explicações da diretora da escola. Para especialistas, educação sexual de crianças e adolescentes ainda é um tabu nas escolas e lares do Distrito Federal.

A curiosidade de uma menina de oito anos sobre a sensibilidade do órgão genital dela ao ver um casal se beijar na televisão foi o estopim para a confusão no município goiano a 36km de Brasília. A pergunta da aluna do 4º ano de uma escola de Florianópolis (SC) era um dos exemplos citados no texto da revista especializada em educação. Segundo a professora Lucina Ribeiro, 30 anos, um grupo de alunos levou a publicação para a sala, em agosto, e logo começaram as brincadeiras envolvendo o sexo nas aulas de ciências. “O conteúdo das perguntas deles me assustou. Tomei a revista e resolvi consultar a direção”, lembrou. Apesar de a educação sexual — prevista nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) — começar no 6º ano no colégio JK, a direção optou por adiantar o tema para as turmas do 5º ano.

A escola pediu ajuda a duas educadoras da Secretaria de Saúde da cidade, que deram uma palestra sobre as transformações que ocorrem no corpo das crianças durante a puberdade. “Falamos sobre a menstruação, higiene pessoal e anatomia de meninos e meninas, temas que eles começaram a estudar este ano”, contou a palestrante Denise Furtado. Até aí tudo bem. Mas, algumas semanas depois, a professora Lucina entregou cópias do texto da revista para cada um dos 48 alunos das duas turmas do 5º ano. “Achei que eles estavam preparados, minha intenção era a melhor possível”, justificou a professora. “O material é direcionado ao público adulto, não era adequado para aquelas crianças”, observou Denise Furtado, que há 12 anos trabalha com saúde e educação com crianças.

Baixaria

A dona-de-casa Sandra Mara Prestes, 42, achou o texto na escrivaninha da filha de 10 anos e foi brigar com o filho, de 17, por ter deixado “aquela baixaria” na mesa da irmã caçula. “Quando soube que a professora tinha entregado em sala, fiquei chocada. Ali tem conteúdo que não é apropriado para a idade dela”, reclamou a mãe, que confessou ainda contar para a filha que bebês vêm de uma sementinha plantada por uma cegonha na barriga da mamãe. Logo, Sandra avisou outros pais de alunos sobre o material. Por vergonha, a filha do casal Socorro Rodrigues, 39, e Ermínio Freitas, 37, também de 10 anos, escondeu a cópia embaixo da cama. “A professora só entregou, não falou nada. Eu achei meio pesadas aquelas palavras, acho que ainda não preciso saber disso”, disse a menina.

As sete páginas da matéria, voltada para adultos, tratam de diversos temas ligados à sexualidade, como masturbação e homossexualismo. Há a história de uma professora que flagrou dois garotos se masturbando durante a aula. Ela disse aos meninos: “Sei que o que vocês estão fazendo é gostoso, mas aqui não é o lugar adequado. Tudo bem parar agora?”. Para a diretora do JK, Juliana Prado, procurada pelos pais dos alunos, não houve excessos por parte da professora. “Infelizmente, muitos pais não conhecem a realidade dos filhos e não abordam questões relevantes sobre a sexualidade em casa”, afirmou ela, que deve se reunir com a equipe pedagógica para debater e tomar providências sobre o episódio nos próximos dias.

Caso expõe despreparo

A sexualidade precoce é uma realidade entre crianças e adolescentes. E, por isso, não pode ser ignorada. Com acesso livre a sites e programas de televisão impróprios para a idade, meninos e meninas afloram sensações e curiosidades sobre o corpo cada vez mais cedo. No entanto, para a educadora da Secretaria de Saúde de Valparaíso (GO), Denise Furtado, boa parte dos pais e professores não estão aptos para tratar o tema. Para ela, a confusão no colégio do município goiano evidencia o despreparo.

A especialista explica que a sexualidade deve ser tratada desde a infância, quando, por volta dos três anos, a criança descobre o órgão genital. “Cada idade requer um tratamento, uma linguagem específica para falar sobre o tema, pois o limite entre a educação e o incentivo é tênue”, alertou. Ela disse que se assustou com o desespero dos pais diante do texto entregue aos alunos. Mas ressaltou a precipitação da professora em divulgar o material. “É preciso encarar o tema com naturalidade e educar essas crianças. Casos de meninas de 11, 12 anos grávidas são cada vez mais freqüentes”, concluiu.


Fonte: Correio Braziliense

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